quarta-feira, 4 de maio de 2016
Desgramatiza! A dura tarefa do desapego da gramática descontextualizada em prol da comunicação - Juliana Tavares
É fato que, para o professor de língua estrangeira, trabalhar com a ajuda de um livro didático é algo de extrema importância. Ter um material didático como guia de seu trabalho possui diversas vantagens: ajuda o professor a planejar o ano letivo com base em suas unidades, fornece prática aos alunos através de suas tarefas, é algo concreto através do qual os alunos podem estudar, etc.
Até aqui, só vimos o lado bom do material didático. Mas, como tudo na vida, adotar um livro tem também seu lado negativo e hoje vamos focar em um dos problemas através de um exemplo bastante recorrente: a gramática descontextualizada.
Recentemente, ao auxiliar uma professora com o planejamento de uma aula, o problema foi bastante óbvio. Ao apresentar comparativos em inglês, o livro listava exemplos que comparavam animais ("Elephants are bigger than monkeys." – quem diz isso em uma conversa normal?), para, logo em seguida, propor uma tarefa na qual os alunos deveriam comparar duas cidades completamente aleatórias (por que tenho que comparar duas cidades? Quando vou precisar fazer isso no mundo real?). O que agravou a situação, entretanto, foi a preocupação da professora em conseguir dar conta de todas essas propostas de maneira significativa, com a fluidez necessária ao se passar de uma atividade para outra. Aí, foi preciso ressaltar para a professora que o problema não estava nela, mas sim no material. E ter esse discernimento é difícil às vezes, principalmente se o professor se encontra em uma instituição que não lhe dá a liberdade de selecionar o que será relevante para os alunos e descartar o que não lhe servir.
Neste caso, seria muito mais relevante trabalhar os comparativos utilizando como tópico algo que os alunos realmente pensariam em comparar em suas realidades. Entra aqui a necessidade de conhecermos nossos alunos e estarmos interessados no que querem, gostam, compram, ouvem e assistem. Dessa forma, podemos convidar nossos alunos a compararem duas séries de TV, duas bandas que gostam, dois destinos possíveis para uma viagem, dois animais de estimação para comprarem, etc. Tudo isso deve ser feito dentro de um contexto comunicativo. Mais tarde, então, podemos expandir o tópico para todas as possibilidades. Podemos, então, comparar animais (não elefantes e macacos, por favor!), cidades, casas, e tudo mais o que as gramáticas fazem porque o objetivo passa a ser a fixação da estrutura.
Saber julgar quando um livro não está sendo relevante em termos comunicativos requer prática e também uma certa dose de coragem. Às vezes sentimos que estamos deixando de ensinar alguma coisa quando decidimos eliminar certos conteúdos ou atividades dos livros. Porém, se o fizermos com um objetivo em mente e em prol da comunicação significativa e relevante, nossos alunos ganharão muito mais. Afinal de contas, quantas vezes você já teve que comparar um macaco com um elefante?
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