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sábado, 1 de outubro de 2016

Sobre a famigerada indisciplina escolar (e as coisas que dizemos a respeito dela)


“Esse menino é terrível!”, diz um professor aqui. “Gente, cadê os pais dessas crianças?”, esbraveja outro. “Eu acho que educação vem de casa e a gente não pode fazer o papel dos pais, era só o que faltava!”, vocifera mais um. Em qualquer sala de professores, tanto das escolas públicas quanto das particulares, essa conversa é bastante comum. A impressão que temos é que a indisciplina é muito pior na escola de hoje do que durante a época em que éramos alunos. Dentre as principais reclamações sobre disciplina estão a dificuldade dos professores em prender a atenção dos alunos e a falta de respeito por parte dos alunos para com o professor e demais funcionários da escola. As duas reclamações são bastante pertinentes e sabemos que o problema atrapalha o andamento das aulas e interfere na motivação do professor em fazer algo que demande algum tipo de inovação em sua prática. Porém, se ficarmos o tempo todo reclamando do estado das coisas sem procurarmos nos inteirar das razões pelas quais elas acontecem e, mais grave ainda, sem acreditarmos que podemos fazer algo para melhorar, nosso trabalho se torna maçante e nós nos tornamos profissionais sem paixão. E como podemos transmitir a paixão por aprender se não tivermos paixão por ensinar?

Presta atenção, menino!

Vamos à questão da falta de atenção. É impossível não notarmos que os alunos que chegam à escola hoje possuem coisas muito mais interessantes para fazer e ver em suas casas ou na casa de colegas. A tecnologia trouxe consigo um universo de infinitas possibilidades de exploração e descobertas, disponível para as crianças com apenas um toque nas telas de seus tablets. Além disso, o conhecimento, que antes tinha um lugar quase que exclusivo dentro do espaço escolar, passou a estar também prontinho para ser acessado dos smart phones. Se eu quiser saber quantos quilos pesa um bebê orca, tudo o que eu preciso ter a combinação apropriada de palavras em meu site de busca para encontrar essa informação. A pesquisa como tarefa de casa ganhou outro significado. Fazê-la é muito fácil e nada desafiador. Professor, acabei de ver no meu celular que um bebê orca pesa 200 kg. Próxima pergunta, por favor.

Portanto, para que nossos alunos se interessem por nossas aulas, é preciso, em primeiro lugar, que nossas aulas sejam mais interessantes. Isso significa que os conteúdos devem ser aproximados da realidade dos alunos, já que o acesso a eles pelo aluno não mais depende do professor. Cabe a nós utilizar a tecnologia a nosso favor, criando em nossa sala de aula um espaço no qual os alunos aprendam a compartilhar o que sabem, assim como a construir algo novo a partir do que sabem. Os fatos e as informações estão bastante acessíveis; resta agora ao professor mostrar como fazer algo produtivo com eles. Alunos produzindo dificilmente se comportam mal.

Educação vem de casa?

A frase acima, repetida como um mantra por professores já bastante frustrados com a questão da disciplina, nem sempre se aplica a determinados contextos. Muitas vezes o problema de falta de disciplina nem sempre se trata de má educação. É preciso entender que o aluno que ingressa na escola ainda não sabe como se comportar no espaço escolar. Todo comportamento é adquirido. É na escola que se ensina como se comportar na escola. O espaço escolar é diferente do espaço familiar. É claro que alunos carentes de limites dentro de casa serão mais difíceis de lidar na escola; porém, muito depende da coerência e da consistência de nós, os professores, desde as séries iniciais. Todos nós já trabalhamos com turmas que, por terem tido um professor mais permissivo, chegam a nossas mãos sem muitas habilidades sociais, autocontrole e postura adequados; da mesma forma, também às vezes recebemos  turmas que são verdadeiros "presentes": alunos visivelmente acostumados com uma rotina e muito melhor disciplinados que a média. É muito fácil averiguar que tais turmas tiveram um professor mais comprometido com a disciplina. 



Infelizmente, hoje em dia a competitividade e a preocupação em formar "para o mercado" atinge nossos alunos cada vez mais cedo. Consequentemente, vemos o conteúdo dominar as salas de aula precocemente, em detrimento do ensino das habilidades não cognitivas, da educação emocional, das relações sociais, etc.

A verdade é que a conquista da disciplina dentro da sala de aula é um trabalho diário, árduo e cujos resultados raramente são vistos por quem o iniciou. Esse trabalho faz parte de nossa missão mais importante como professores: educar para a vida. Pouco podemos fazer em relação ao fato de nossos alunos terem pais ausentes, pais permissivos ou pais negligentes. Porém, podemos pensar no que fazer para que esses alunos também tenham uma chance de aprender na escola o que deveria ser aprendido em casa. Tarefa difícil? Sem dúvida! Mas quem escolheu a profissão de educador não estava esperando algo fácil, estava?



terça-feira, 8 de março de 2016

Diferentes formas de se trabalhar em grupos na sala de aula.


Sabemos da importância de trabalhar com diferentes formatos na sala de aula para que tenhamos ritmos diferentes e instigar e motivar nossos alunos. Um desses formatos é desenvolver pequenos projetos em grupos menores. Mas qual deve ser o tamanho desses grupos? Isso depende muito do número de alunos que você possui em sua sala de aula. Depende também do tempo que você tem disponível, do espaço físico de sua sala e da natureza do seu projeto.

Seguem abaixo algumas sugestões interessantes:


 

Buzz groups

 
Número de alunos: indeterminado
Duração: 3-10 minutos
Espaço físico: sem limitação
Objetivo: impulsionar ideias/respostas, estimular o interesse do aluno, auxiliar o aluno no entendimento de uma ideia.
Descrição: Esse formato de grupo faz com que os alunos se engajem em discussões pequenas e informais, normalmente respondendo a uma pergunta. Em um dado momento de sua aula, peça que os alunos procurem de 1 a 3 colegas para discutirem qualquer dificuldade que eles estejam tendo, responderem a certa pergunta, definirem e darem exemplos sobre um conceito apresentado, ou ainda especularem o que irá acontecer no próximo momento da aula.

 

Think-pair-share

Número de alunos: indeterminado
Duração: 5-10 minutos
Espaço físico: sem limitação
Objetivo: impulsionar ideias, aumentar a confiança do aluno em suas respostas, encorajar participação.
Descrição: Essa estratégia possui três etapas distintas: primeiro, o aluno pensa individualmente a respeito de uma determinada questão. Em seguida, o aluno senta-se com um colega e compara suas ideias. Finalmente, eles abrem a discussão e compartilham suas ideias com a classe toda.


Circle of Voices

Número de alunos: indeterminado
Duração: 10-20 minutos
Espaço físico: cadeiras que possam ser mudadas de lugar.
Objetivo: impulsionar ideias, desenvolver estratégias auditivas, incentivar a participação de alunos e equalizar o ambiente de aprendizagem.
Descrição: Essa técnica consiste em cada aluno ter seu momento para falar. Os alunos formam círculos de quatro ou cinco membros. Dê um tópico a cada aluno e permita que ele desenvolva uma ideia a respeito do tópico por alguns minutos. Em seguida, a discussão deve se iniciar, sendo que cada aluno do círculo tem até 3 minutos (estipule um tempo), sem interrupções, para falar. Durante esse tempo, ninguém pode dizer nada. Após todos os participantes terem exposto suas ideias, os alunos devem discutir nos pequenos subgrupos a respeito da fala de um dos integrantes. Os alunos não devem discutir sobre o seu tópico, mas sim sobre o tópico do outro.


Rotating trios

Número de alunos: 15-30
Duração: no mínimo 10 minutos
Espaço físico: um espaço maior onde as cadeiras também possam ser mudadas de lugar.
Objetivo: apresentar os alunos aos seus colegas e impulsionar ideias.
Descrição: Essa estratégia consiste dos alunos discutirem tópicos alternando-se em diferentes trios. Prepare as perguntas antes da aula. Na sala de aula, agrupe os alunos em trios, que devem estar em forma de um grande círculo formado pelos trios. Dê aos trios uma pergunta e peça que cada membro do trio a responda. Em seguida, peça aos membros de cada trio que se numerem com os números 1, 2 e 3. Peça ao número 1 de cada trio que se desloque para o grupo do deu lado esquerdo. Peça ao número 2 de cada trio que se desloque para o trio do seu lado direito. O aluno de número 3 fica onde está. Assim, será formado um novo trio. Agora dê novamente outra pergunta com um nível de dificuldade um pouco maior. Continue com a rotação dos trios e introduzindo novas perguntas.


Snowball groups/pyramids


Número de alunos: 12-50
Duração: 15-20 minutos
Espaço físico: cadeiras que podem ser mudadas de lugar.
Objetivo: impulsionar e desenvolver estratégias de tomadas de decisão
Descrição: Usando essa técnica, os alunos primeiro trabalham individualmente, em seguida em pares e depois em quarteto, etc. Na maioria dos casos, após o trabalho em quarteto, o projeto é encerrado com a classe toda. Certifique-se de ter questões interessantes, significativas e não repetidas para não permitir que os alunos percam a motivação. Por exemplo: peça aos alunos que façam perguntas a respeito do tópico discutido em sala de aula. Em pares, eles devem tentar responder à pergunta do outro; em grupos de quatro, ele devem tentar responder às perguntas que não foram respondidas, ou procurar um ponto de controvérsia dos pares. Na sala como um todo, um representante de cada grupo reporta suas conclusões para a classe.


Jigsaw


Número de alunos: 10-50
Duração: no mínimo 20 minutos
Espaço físico: Espaço amplo
Objetivo: aprender conceitos com maior profundidade, desenvolver senso de equipe no qual alunos ensinam alunos
Descrição: Essa estratégia transforma o aluno em um expert em algum aspecto de determinado tópico para depois compartilhar seu conhecimento com o outro. Divida o tópico em partes. Forme 3 a 5 subgrupos a dê a cada subgrupo uma parte diferente do tópico. O objetivo de cada subgrupo é desenvolver essa parte do tópico e se especializar nesse assunto através de brainstorming, desenvolvendo ideias e se possível, pesquisa. Ao terminar a discussão, reorganize os grupos para que cada grupo tenha com um membro de cada especialidade. Em seguida, os alunos desse novo grupo devem compartilhar suas ideias, formando assim o tópico por completo. Uma forma mais visível de dividir o tópico para os alunos é distribuir os subtópicos em folhas de cores diferentes. No primeiro estágio, os grupos são compostos de alunos com as folhas de mesma cor; para o segundo estágio, cada membro deverá ter uma folha de cor diferente.


Fishbowl


Número de alunos: 10-50
Duração: no mínimo 15 minutos
Espaço físico: espaço amplo
Objetivo: observar interação entre grupos, prover oportunidade para análise.
Descrição: Essa estratégia desenvolve oportunidades de observação onde um grupo irá observar o outro. O primeiro grupo forma um círculo e discute um tópico ou desenvolve um diálogo. O segundo grupo forma um círculo ao redor do primeiro grupo. Esse grupo deverá observar como esse grupo participa entre si, analisar seu funcionamento, ou somente observar e analisar a tarefa a ser cumprida.


Learning Teams


Número de alunos: indeterminado
Duração: indeterminada
Espaço físico: sem limitação
Objetivo: intensificar relacionamentos entre os alunos, aumentar a confiança em participar de projetos.
Descrição: Os alunos são divididos em grupos no início do semestre. Nos momentos durante os quais você for desenvolver atividades em pequenos grupos ou equipes, os alunos devem recorrer aos grupos formados no início do semestre. Grupos de quatro membros são interessantes, pois podem ser subdivididos em pares, se necessário. 



Referências Bibliográficas:


Brookfield, S.D., & Preskill, S. (1999). Discussion as a Way of Teaching: Tools and Techniques for Democratic Classrooms. San Francisco: Jossey-Bass Publishers. Habeshaw, S., Habeshaw, T., & Gibbs, G. (1984). 53 Interesting Things to Do in Your Seminars & Tutorials. Bristol: Technical and Educational Services Ltd.
Jaques, D. (2000). Learning in Groups: A Handbook for Improving Group Work, 3rd ed. London: Kogan Page.
Johnson, D. W., Johnson, R. T., and Smith, K. A. (1991).Cooperative Learning: Increasing College Faculty Instructional Productivity. ASHE-ERIC Higher Education Report No.4. Washington, D.C.: School of Education and Human Development, George Washington University.
Race, P. (2000). 500 Tips on Group Learning. London: Kogan Page. Silberman, M. (1996). Active Learning: 101 Strategies to Teach Any Subject. Boston: Allyn and Bacon.
Slavin, R. E. (1995). Cooperative Learning: Theory, Research, and Practice, 2nd ed. Boston: Allyn and Bacon.


(Adaptado e traduzido de: https://uwaterloo.ca/)