(Juliana Tavares)
Gosto muito do início do ano e das atividades de
planejamento. Para mim, metaforicamente falando, é como se tivéssemos em
nossas mãos um caderno branquinho, impecável, com aquele cheirinho de
papel novo, pronto para ser preenchido com aprendizado e experiência. E
todo esse aprendizado, nós tentamos antecipá-lo em nosso planejamento,
como que em uma tentativa de determinar a forma que cada página será
preenchida durante o ano.
E foi que, ao final de uma semana bastante produtiva com nossa equipe
de professoras de línguas e demais colegas coordenadores e professores
de outras áreas, uma de nossas metas para este ano ficou estabelecida de
forma bastante unânime, dada a sua importância nos dias de hoje: para
crescermos como equipe e como escola de uma forma geral, precisamos
começar a pensar coletivamente, a dialogar com outras áreas e a fazer
esse diálogo transparecer em nossas aulas; ou seja, praticar a
interdisciplinaridade, para que ela se torne parte integrante da cultura
e da proposta pedagógica da escola. Mas o que isso significa para o
professor de língua estrangeira? Como tal prática se configura em nosso
contexto e o que é preciso fazer para estreitar laços e estabelecer
pontes com as demais disciplinas?
Sempre pensei no ensino da língua através de um olhar
multidisciplinar porque acho que, para ter significado, uma língua não
pode ser aprendida apenas por ela mesma. Ensinamos a língua através da
Literatura, da Arte, da História, da Geografia, da Gastronomia, da
Música e até mesmo das Ciências Exatas, já que nosso insumo geralmente é
pautado nos mais diversos assuntos e gêneros textuais, provenientes de
diferentes contextos.
Porém, interdisciplinaridade é mais que isso. Para o profissional de
línguas do contexto escolar, ela está muito ligada à curiosidade em
saber mais sobre o objeto de estudo das demais disciplinas e procurar
meios de contribuir, através da língua estrangeira que ensina, para o
enriquecimento desses diferentes objetos de estudo no universo do
aprender de seus alunos. Está em mostrar aos alunos o quanto a língua
está profundamente relacionada com a história de um povo, o quanto ela,
geograficamente falando, afasta e aproxima nações; como a matemática e
seus instrumentos de sistematização podem auxiliar-nos na sistematização
da gramática; como a ciência busca a lógica da etimologia para nomear e
classificar. Para isso tudo, é essencial que eu saiba do que estou
falando, que eu tenha respaldo e o busque com aquele que pode
fornecê-lo. E é justamente aí que entra a imprescindível importância do
diálogo e integração entre os educadores de todas as áreas. Sem
conhecer-nos uns aos outros, é impossível nos aproximarmos.
Finalmente, buscando em Paulo Freire respostas e elucidação para esse conceito, me deparo com a frase que norteia sua Pedagogia da Autonomia
e que deveria ser palavra de ordem para qualquer educador: não há
docência sem discência. No tocante da interdisciplinaridade, aprendemos
com o outro a beleza do que não é nosso, para então fazermos nosso
também. E nos tornamos alunos de nossos colegas, assim como eles se
tornam nossos também
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